quarta-feira, 5 de dezembro de 2007



Nem tudo é preto no branco na escola...

Nem tudo é linear, paralelo...

Tem o trans-prosa, trans-ente, o trans-verso, o avesso, o diverso e o converso!

Conversa de cores, pinturas. Conversa de sons, música. Conversa de palavras, textos. Conversa de adulto, chata. Conversa de criança, poeminha.

Nem tudo é preto no branco na escola. Nem tudo é esperado. Nem tudo é planejado. Nem tudo é medido. Nem pode... Escola é trança, transa e trama.

Nem tudo na escola é escola... Nem pode! Ainda bem!

200, intermináveis, dias


200 dias de aula... 200 dias... longos dias. Para profesores, para estudantes, para famílias, para a escola... Acho que precisamos de férias! Todos! Férias de responder, de intervir, coletivizar, de falar em rodas, de passar tarefas, de cumprir tarefas, de domesticar... e achar que isso é educar... nesse tempo marcado e contado, um tempo que espera um fim para pular... no mar, na areia, no mato, pelas árvores, na cidade... solto, leve...pela escola que há na cidade! Menos dias e mais compromisso!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Kevin Johansen - Anoche soñé contigo

Não seja Toller... Essa é do Kevin!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007


Preto no branco...esquinas de sombras cinzas.

Luz e sombra... pessoas com passos paranãoseionde.

Um túnel, uma passagem, passandando pela cidade.

Vai além, com pés em rodas, curvas em linhas.

Nãoseionde e nuncaestá, lugares a se ganhar.

Passosdados, descalçados emtimbrespegadas.

Assim caminha aquele que não quer chegar,

pela cidade que não quer estar.

Sujeidade.Cidajeito.Talvezeu.Esqueça.

Oneub ahnuc olecraM...

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Per lei...Elisa


M'illumino d'immenso


Giuseppe Ungaretti

quinta-feira, 27 de setembro de 2007


Falta-nos tirar a toga de professor e vestir o nariz de palhaço, o chapéu de guizos, as orelhas de burro a capa puída dos vagabundos...
“Aos professores nos falta, talvez irremediavelmente, essa aristocracia de espírito, essa finura de espírito, essa leveza que ainda tinha o pensamento quando não era monopólio dos professores, quando ainda não se havia contaminado dessa austeridade pedagógica, moralizante, solene, dogmática e um tanto caspenta que é própria do tom professoral. Talvez tivéssemos de deixar de ser professores para aprender a formular um pensamento em cujo o interior ressoe, desembaraçadamente, o riso”. Jorge Larrosa...

segunda-feira, 17 de setembro de 2007



O tolo não vê a mesma árvore que o sábio vê.

Willian Blake

sexta-feira, 24 de agosto de 2007


ESCOLA: ESPAÇO DE TRANS-FORMAÇÕES


Marcelo Cunha Bueno

Pensar Escola...
Tantas imagens e representações...
Imposições maiores... das leis, referenciais, parâmetros, currículos, projetos, planejamentos... Imposições menores... dos olhares, dos gestos, das falas, das expectativas, da prestação de conta de sala de aula.
Como é possível transformar um espaço que se encontra – perdido – totalmente capturado por discursos de controle e de asujeitamentos?
Ações medidas, confinadas num pensar entorpecido pelas práticas exatas dos receituários de palestras, congressos e assessorias de formação em educações-show. O espetáculo da educação está por todas as partes! A Escola é prisioneira dos grandes ideais, dos grandes projetos, das grandes políticas. Esse espetáculo acontece justamente por termos medo de nos entregar ao estudo, de ler um livro de letras miúdas, por não querermos nos perder, sofrer instabilidades, desconcertos e incertezas. Facilitam a vida... mas empobrecem as relações. Profetas, magos, supereducadores estão por todas as partes afagando e acariciando as angústias e as cabeças dos tão sofridos professores. Professores precisam de estudo, não de consolo!
O que é preciso aprender na Escola? O que um professor pode aprender em uma escola? Pergunta gostosa de ser respondida!
Professor precisa se espalhar por culturas. Freqüentar museus, cinemas, exposições, teatros, ficar em casa lendo livros, assistindo a filmes. Precisa conversar com companheiros de trabalho e não falar de trabalho, precisa ver a escola com olhares mais descolados das obrigações docentes. Precisa ser escutado, de corpo e alma. Precisa ter um espaço dentro de sua Escola para criar, desenhar, rabiscar, pintar, dançar, cantar, ouvir, se emocionar... Precisa de espaço para relacionar e criar conceitos. Precisa se afastar das representações de escola. Apagar a escola. Afastar-se dela para poder habitá-la.
A educação exige espaços. Espaços múltiplos, leves, livres, fora... Territórios de passagem e desapegados do tempo escolarizado. Os habitantes desses espaços podem circular por conceitos fechados, ampliá-los com outros conceitos, idéias, imagens, sons... Podem inverter palavras, podem desenhar idéias, podem abrir a visão para ver as coisas com os olhos de outros lugares, que parecem não lhes pertencer.
Para habitar esses espaços, não é preciso bagagem, somente se abrir para a criação. Não é preciso receitas prontas, planejamentos semanais, boletins, relatórios, avaliações diagnósticas, apostilas... Criação como possibilidade de invenção, de resistência. A criação não é apenas criar algo novo a partir do velho ou do que já existia. Quando se fala em autoria em sala de aula, fala-se de resistência. O poeta-inventor cria outros espaços: não determinados, espaços marotos. Espaços ágeis que escapam aos discursos hierárquicos da Escola.
Criação e resistência como miragem. Imagens desfocadas do “fazer-pedagógico”. Imagens de paisagens educacionais que apenas alguns vêem. Imagens não projetadas, pois não podem ser focadas. Imagens geográficas...
Resistir em sala de aula quer dizer ir além do que o outro diz ou impõe como correto de ser feito-pensado. Resistir é criar outras possibilidades de entender os conteúdos fechados e prontos das metodologias do aprender. Resistir é se desapegar do futuro e do saber! Sim, do saber. Aquele templo montado em volta da escola que não permite ou admite erros ou escorregões. Não admite desculpas ou humildade. Não consegue andar sozinho, não admite solidão, sofrimento ou padecimento. Sabemos e conhecemos a pressão que os “saberes” nos colocam. Uma segurança – falsa – de estabilidade, de sucesso de futuro.
Resistir é criar, é criar exclamações!
Em escola, vive-se pouco o presente. Passado que acumula saberes e fazeres construindo futuros estares... Futuro não pode existir em Escola. O que importa para a criação ou resistência é se preocupar com o hoje, o agora, o aqui. O agora importa porque é único, um presente das possibilidades, da multiplicação. Momento de surpresas, momento que provoca sons que ecoam. Momentos de experiência! Não podemos ter isso vivendo no futuro. O aqui, pois só ele importa. Um espaço fronteiriço com possibilidades infinitas. Aqui e agora, presente e acontecimento, experiência e vida, potência e resistência...
Escola como espaços de trans-formações é a multiplicação de saberes... Saberes não marcados, mutantes frente às experiências de cada um. Trans-formação e estudos... Estudar é abrir-se para o hoje, para a criação, para o que nos passa e acontece... Estudar e desfrutar de saberes móveis, nômades, andarilhos. Saberes que, a cada olhar e palavra, modificam-se, assumem outras formas e composições. Pedem, clamam por associações e costuras. Precisam do outro para existir, resistir e criar... Criação é reticências...Reticências e exclamações...!!! Uma vida de pausas e sustos. Silêncio! A escola precisa de espaços silenciosos. Espaços sem argumentações teóricas, sem explicações para tudo o que lhe acontece. Precisa se calar um pouco. O silêncio abre incômodos, deixa expostos os corpos em suas idéias, faz com que procuremos olhares e encontremos cumplicidade. Silenciar, calar e interromper o diálogo com uma conversa de gestos, olhares e, principalmente, sensações...

terça-feira, 7 de agosto de 2007


El estudiante tiene espacio. Un espacio aquí, libre, liberado. Fuera de la extensión de los lugares concretos y de los territórios marcados. Espacio abierto, inderteminado. Por eso el estudiante vaga, vagabundea. Extravagante, el estudiante da vueltas y revueltas, se mueve lentamente, se permite rodeos, se ofrece paradas, se detiene.

Jorge Larrosa.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007


Não-coisa
O que o poeta quer dizer
no discurso não cabe
e se o diz é pra saber
o que ainda não sabe.
Uma fruta uma flor
um odor que relume...
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume?
Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa
e que não tem sentido?
A linguagem dispõede conceitos, de nomes
mas o gosto da fruta
só o sabes se a comes
só o sabes no corpo
o sabor que assimilas
e que na boca é festa
de saliva e papilas
invadindo-te inteiro
tal do mar o marulho
e que a fala submerge
e reduz a um barulho,
um tumulto de vozes
de gozos, de espasmos,vertiginos
o e plenocomo são os orgasmos
No entanto, o poeta desafia o impossível
e tenta no poema dizer o indizível:
subverte a sintaxe
implode a fala, ousa incutir na linguagem
densidade de coisa sem permitir, porém,
que perca a transparência já que a coisa é fechada à humana consciência.
O que o poeta faz mais do que mencioná-la
é torná-la aparência pura — e iluminá-la.
Toda coisa tem peso: uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa que não tem nada dentro,
a não ser o ressoar de uma imprecisa voz
que não quer se apagar— essa voz somos nós.
Ferreira Gullar

quinta-feira, 26 de julho de 2007


Palavras

Gosto de brincar com elas.

Tenho preguiça de ser sério.

Manoel de Barros...

quinta-feira, 19 de julho de 2007


Quero dar meu conselho aos denegridores do corpo: Não devem mudar de método de ensino, mas unica­mente despedir-se de seu próprio corpo [...], e assim fazer-se mudos. A criança se expressa assim: "Eu sou corpo e alma". E por que não se expressar como as crianças? Quem está desperto e consciente exclama: Todo eu sou corpo e nenhuma outra coisa. A alma só é uma palavra para uma partícula do corpo.
NIETZSCHE.

terça-feira, 10 de julho de 2007


COMUNIDADE
Somos cinco amigos; uma vez saímos um atrás do outro de uma casa; primeiro veio um e pôs-se junto à entrada, depois veio, ou melhor dito, deslizou-se tão ligeiramente como se desliza uma bolinha de mercúrio, o segundo e se pôs não distante do primeiro, depois o terceiro, depois o quarto, depois o quinto. Finalmente, estávamos todos de pé, em uma linha. A gente fixou-se em nós e assinalando-nos, dizia: os cinco acabam de sair dessa casa. A partir dessa época vivemos juntos, e teríamos uma existência pacífica se um sexto não viesse sempre se intrometer. Não nos faz nada, mas nos incomoda, o que já é bastante; porque se introduz por força ali onde não é querido? Não o conhecemos e não queremos aceitá-lo. Nós cinco tampouco nos conhecíamos antes e, se se quer, tampouco nos conhecemos agora, mas aquilo que entre nós cinco é possível e tolerado, não é nem possível nem tolerado com respeito àquele sexto. Além do mais somos cinco e não queremos ser seis. E que sentido, sobretudo, pode ter esta convivência permanente?, se entre nós cinco tampouco tem sentido, mas nós estamos já juntos e continuamos juntos, mas não queremos uma nova união, exatamente em razão de nossas experiências. Mas, como ensinar tudo isto ao sexto, pôsto que longas explicações implicariam já em uma aceitação de nosso círculo? É preferível não explicar nada e não o aceitar. Por muito que franza os lábios, afastamo-lo, empurrando-o com o cotovelo, mas por mais que o façamos, volta outra vez.

FRANZ KAFKA

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Moska - Quantas vidas você tem

Sem comentários...só o que as palavras não encontram!

sexta-feira, 29 de junho de 2007



Calma, menino, o mundo é quem te vê!

quinta-feira, 28 de junho de 2007


Dar a ler, então, é dar as palavras sem dar ao mesmo tempo o que dizem as palavras [...] Somente aquele que não sabe ler pode dar a ler. Aquele que já sabe ler, aquele que já sabe o que dizem as palavras, aquele que já sabe o que o texto significa [...] esse dá o texto já lido de antemão e, portanto, não dá a ler.

Jorge Larrosa

segunda-feira, 25 de junho de 2007

(06) Kevin Johansen - Gem in I

Feche os olhos e abra o coração!

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O TREM-METRÔ
Marcelo Cunha Bueno

O menino estava no banho, sua mãe disse que iriam para a casa dos tios de metrô. Lava a cabeça, lava o pé, passa sabão e deixa escorrer. Me... o quê? Perguntou o menino, tirando o xampu do rosto. Metrô, meu filho, você nunca viu um, né? Disse a mãe com voz compreensível para o filho.
O metrô é parecido com trem, mas ele anda embaixo da terra. Embaixo da terra? Como?? Na cabeça do menino, aquele metrô era uma nave espacial, feita para andar na terra, com furadores enormes na frente que arrancavam e detonavam todas as pedras, canos de esgoto, terras e tijolos que encontravam em seu caminho.
Mas, e os tatus? Que tatus, meu filho? E se tiver um tatu no meio do caminho do trem-metrô. Não tem tatu nos trilhos. No trilho? O metrô vai de trilho? É, meu filho, como você achou que ia, perfurando?
O menino secava-se com a toalha. Quem dirige o vagão do trem-metrô? Não é trem-metrô, é só metrô – corrigiu a mãe. Aposto que é o papai. Só ele teria coragem para andar embaixo da terra! Não, é o motorista! Coloca a sandália para ir ao quarto.
Com a sandália no pé e as idéias na cabeça... A que horas o tr..., o metrô vem buscar a gente? Como saberemos que ele chegou? Ele toca alguma buzina? – perguntou o menino. Não, depois que você se arrumar, nós iremos até a estação. A que horas ele passa? Sempre passa, toma, dá o pé – disse a mãe com as meias na mão. Então, já teve um metrô que cavou um buraco? Não, quem cavou foram alguns homens. O papai ajudou a cavar, não foi? Não, meu filho, seu pai trabalha com outras coisas... Amarra o tênis. Mas, como o motorista sabe onde é a casa do tio e da tia? Ele não sabe – respondeu a mãe, apressada. Não sabe? Você vai explicar? Não. Você sabe dirigir metrô? Não! Vamos, estamos ficando atrasados com tantas perguntas.
No caminho, o menino continuava a pensar. Seu coração batia rápido. Ele anda rápido? Quem, seu tio? Não, o metrô! Anda, muito rápido. Ele é supersônico? O que é isso, filho? Não sei, acho que deve ser, sei lá. As pessoas sabem que existe o metrô? Claro! Por que é que elas não estão lá? Não sei. Deve ser muito legal andar nele.
Enfim, chegaram à estação. Cadê? Cadê o quê? O metrô, mãe. Já vai, filho.
Bilhete magnético, catraca eletrônica, escada rolante... só podia ser um sonho! De repente, no túnel, uma luz se aproximou. Os olhos do menino, arregalados, brilhavam de emoção. Lá vinha a sua nave espacial, conduzida por seu pai, em um buraco-túnel, cavado pelo mesmo, para levar-lhe até os seus tios, rápido como um supersônico, por um caminho feito especialmente para a ocasião. Pegaram e foram.
Quem pode desdizer a imaginação de uma criança?

terça-feira, 19 de junho de 2007


TODA PORTA QUERIA SER UMA JANELA
Marcelo Cunha Bueno

Janelas não querem entrar nem sair, querem apenas deixar passar. Têm olhos que vêem o movimento de pessoas, plantas e animais. Contentam-se apenas com passos e sorrisos. Abrir uma janela pela manhã, é dar bom dia à vida!
Pela janela, podemos ver com os olhos de quem está de fora e de dentro, ao mesmo tempo. Janelas são as verdadeiras portas de entrada de uma casa. Janelas com cortinas, janelas com flores, plantas, decoradas, janelas com os olhos de quem as habitam.
Os sonhos moram nas janelas. Lembro-me das manhãs de minha infância. Viajávamos eu, minha mãe, tia e primo, para um sítio gostoso no interior de São Paulo. Era um lugar repleto de janelas. Todas as manhãs, podia escutar minha mãe e minha tia dando bom dia para a cidade.
Acordava sonhando! As janelas eram rústicas, cor da própria madeira. Tinham cheiro das folhas dos pinheiros próximos da casa. Faziam barulho cada vez que abriam e enchiam o ambiente de luz. Um ritual digno de se guardar na memória!
Na sala de nossa casa, havia pelo menos oito janelas bem altas que davam para um terraço enorme. Podíamos ver um vasto gramado pelas janelas da frente e, pelas das laterais, víamos um pequeno vale. Um lugar de infância e brincadeiras. A casa parecia não ter paredes. Parecia ser uma grande janela - para o mundo!
Por ela, avistávamos os visitantes e, por ela, despedíamo-nos também. Por ela, caminharam as sensações mais deliciosas de minha vida. Cheiro de comida no fogão, sons de panela e pratos sobre a mesa. Músicas que povoaram a minha meninice, cantadas pela minha avó, tocadas pela vitrola que não existe mais. Por ela, via minha mãe rindo e me chamando para tomar banho e comer. Por ela, trocava a porta e, moleque, pulava-a correndo em busca de uma bola. Por ela, posso ver a minha infância.
Janelas deixam a luz entrar, conversam com o mundo exterior e abrem caminhos para o interior. A vida deve ser como uma casa repleta de janelas. Dizer aos outros que devem abrir as portas para conquistar seus desejos, é tirar a possibilidade da contemplação que é própria dos sonhos.
As crianças gostam de janelas. Não importa de onde sejam, gostam de olhar por elas. Quem não pegou seu filho, em um momento de silêncio, a olhar o mundo de passagem pela janela do carro? Devemos abrir as janelas de nossa sensibilidade e deixar que o mundo nos toque, devemos abrir nossas janelas e nos implicar com as coisas que estão ao nosso alcance. Abrir janelas é como dar uma chance para as surpresas que o mundo tem para nos oferecer.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

A Educação pela Pedra

Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, freqüentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
[pela de dicção ela começa as aulas].
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra [de fora para dentro,Cartilha muda], para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
[de dentro para fora, e pré-didática].
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.
João Cabral de Melo Neto

terça-feira, 12 de junho de 2007

Parafins, gatins, alphaluz, sexonhei da guerrapaz
Ouraxé, palávoras, driz, okê, cris, espacial
Projeitinho, imanso, ciumortevida, vivavid
Lambetelho, frúturo, orgasmaravalha-me Logun
Homenina nel paraís de felicidadania:
Outras palavras
Caetano Veloso- Outras palavra



segunda-feira, 11 de junho de 2007

Eu fui na Praia do Janga
Pra ver a ciranda
E o seu cirandar.
O mar estava tão belo
E um peixe amarelo
Eu vi navegar...
Não era peixe, não era.
Era Iemanjá, a rainha.
Dançando a ciranda, ciranda...
No meio do mar...

Capiba...Por Lenine.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

POR UM PENSAR MAIS LEVE EM EDUCAÇÃO

Tenho a impressão de que, cada vez mais, a seriedade que habita as relações nos cansa! Sim, creio estarmos cansados de sermos sérios.
Os explicadores, aquele que parecem não abandonar o tom professoral-pastoral jamais, parecem se multiplicar nos dias que seguem. Impressionantemente, a cada esquina, virada de página, ou olhar para o lado, tem um agente explicador que se especializou em algo e faz questão de professorar, transformando beleza em seriedade.
Penso na seriedade que a escola assumiu ao longo de seu caminho. Quando falo de seriedade, me refiro à falta de leveza nas relações com seus estudantes, familiares, com o mundo. Na escola, tudo é capturado por palavras de ordem, palavras especialistas em formatar sentidos, vontades, experiências. Seriedade que anula o estudante, o professor, as famílias. Todos sérios, aturam a rotina exaustiva da escola nos seus intermináveis 200 dias letivos, que, com tantos feriados, impedem as crianças de respirar férias longe dela. Sérios, aguardamos o último dia chegar para nos livrarmos da seriedade e da cruz professoral que a verdade-explicadora-especialista nos coloca.
Pesado. O ar está pesado. Nas escolas, nas ruas, nos cinemas... Cada vez mais! Agora inventaram que cada cinema tem um público específico! Outro dia, escutei de uma pessoa que foi a um cinema e se sentiu um peixe fora d´água! Pode? O que nos acontece? NADA! Nada mais nos acontece! Nada mais parece nos afetar. Trabalhamos por vários motivos e nos esquecemos da leveza do gostar, do simples gostar.
Criança sabe das coisas. Quantas vezes já nos podaram quando apenas gostávamos das coisas “porque sim”? Diziam que isso não era resposta! Uma das coisas mais interessantes em escola é escutar a conversa das crianças. São leves em seus comentários, não devem satisfações sobre seus gostos e “achares”. Muitas vezes, em rodas de conversa, os assuntos vão de um lado ao outro, sem ordem, mas não desordenados, com outra costura. Conversa de criança é uma renda de histórias. Aprende-se muito com essas rendas! Rendas que criam uma cultura, discursos, provocam sentimentos e dão algumas cores para a seriedade das palavras exatas.
Falta leveza na escola! Falta contarmos mais sobre o que nos acontece e o que nos passa, como diz o professor Jorge Larrosa. Falta entendermos que a riqueza de uma relação dentro da escola está na disposição por nos abrirmos para os acontecimentos, que não têm compromisso com o “para sempre”, com o futuro. O aqui e o agora e a surpresa são parceiros da leveza. Falta o professor entender que sua paixão é fundamental para afetar o outro. Não é aquela paixão pela profissão, que emburrece e embrutece o estudo, mas a paixão por ser leve, por rendas, por histórias e por culturas.
Falta professores falarem mais sobre seus gostos também, falta serem menos imparciais, menos explicadores, menos donos das verdades dos outros. Falta deixarem de achar que os outros sempre se importam com suas palavras.
Falta falar mais sobre as inspirações e lugares que os livros nos arremessam, sobre a beleza do olhar para uma tela de cinema, sobre o silêncio que o coração escuta com a música, o pulsar do corpo dentro de uma sala de teatro, os suspiros constantes ao caminhar pelas artes, a emoção de rever amigos e deleitar-se em palavras carinhosas, sobre escutar o som do pôr-do-sol... Falta, simplesmente, gostarmos mais do presente! A vida é agora!
Falta-nos rir, gargalhar, chorar... Sem compromisso! Falta-nos intensidade nas relações, falta-nos um sentir mais poético para aquilo que fazemos. Falta aquela música de fundo!
Penso na escola... Lugar sério. Penso nos habitantes dela.... Sérios! Penso no que ela quer... Coisa séria! Aquela que deveria cultivar a arte do encontro se perde nos desencontros, na individuação, na competição. Dessa forma, afasta as pessoas com uma competitividade sem tamanho. Almeja pessoas sérias... Insensíveis, superficiais em sentimentos, racionais.
Pessoas que se importam com o mundo, de verdade, são pessoas intensas, que se emocionam com o pequeno, coisas pequenas. São elas as únicas capazes de transformar as nossas vidas, de agir pela transformação.
Onde se aprende isso? Com certeza não é na academia-faculdade, não é nos intermináveis cursos de especialização, não é em palestras-shows...
Nos espaços de Estudo e Experiência, experimento algo incrível: desapegada desse valor professoral, desconectada do compromisso pelos acúmulos de profissionais competentes, criamos um outro espaço “formativo”, um não discurso pedagógico. Quero antes, pessoas que se importem com pessoas. Pessoas que se importem com suas vidas, que gostem de viver o hoje!
Nas discussões em grupos de professores, não falamos de escola, mas lemos imagens, desenhamos palavras, degustamos idéias, pensamos leve, livre. Isso muda tudo! Tenho mais do que professores aqui! As crianças e as famílias têm mais do que professores.... Nós nos temos por inteiro, mesmo sabendo que é apenas uma parte.
Sem cortes, intensamente ganhamos nossos dias com a poesia de estarmos no meio de um turbilhão de transformações! Aqui, criamos novos espaços para discutirmos o que fazemos... Pensamos educação por outros caminhos. Pensamentos nômades da educação. Falta-nos o querer de nos perder em pensamentos para podermos nos encontrar nos outros, nos lugares, nos versos, na leveza da simplicidade.
Educar somente para ser aluno, que tem prazo de validade, e não para ser estudante, que é para a vida toda!

Escrevo para não ter mais face...
Foucault - ando

O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.

William Blake

terça-feira, 5 de junho de 2007


A coleira
Livre e confiante cidadão da Terra, eis que está preso a uma corrente longa o bastante para lhe proporcionar a liberdade sobre todo o espaço terrestre; conquanto longa apenas de maneira a que não o solicite coisa alguma fora dos limites da Terra. É ao mesmo tempo livre e confiante cidadão do Céu, e eis que está preso a igual corrente celeste.
Quando pende muito para a Terra, estrangula-o a corrente celeste; quando pende muito para o Céu, estrangula-o a coleira terrestre...
Tem todavia todos os recursos, sente isso; sim, mas obstina-se em negar que tudo se dava a um erro inicial na fixação dos grilhões.

Kafka...
POR UMA PEDAGOGIA INCENDIANTE OU INCENDIÁRIA!

Marcelo Cunha Bueno

A Escola é um campo de batalhas, de lutas discursivas, de guerras pedagógicas. Não pode ser diferente! Um espaço rico geograficamente, onde múltiplos interesses travam confrontos formativos e desejantes por se transformarem em conhecimentos. Essa luta não fere ninguém, não pretende eliminar, aniquilar, apenas quer a desconstrução, a efetivação de novos espaços para conceitos, palavras. Ela quer ensinar a criança, o adulto a desaprender. Desaprendemos quando aquilo que sabíamos perde espaço para o novo. Escola é espaço de ruptura!
Penso naquelas escolas onde tudo é previsto, antecipado, onde não há espaços para as surpresas, para a novidade. O imprevisível, o campo do desconhecido, do incerto e inseguro é fortemente negado por muitas escolas. Devemos lembrar que, sem o espaço para o incerto, não há a menor possibilidade de nos abrirmos para a multiplicação de saberes. Talvez nos forçar a dizer mais “nãos” seria a solução: não ao programa, não aos projetos anuais, não ao cronograma que engessa, emperra e delimita o trabalho de professores e de seus estudantes. A segurança do conteúdo programático é falsa! Falsa porque não consegue controlar o nosso pensamento... que alça vôos. O programa assegura um mesmo discurso, sempre, mas não assegura um aprendizado, nunca!
Negar esses aspectos não é, em nenhuma instância, a defesa da bagunça, mas uma defesa pela escola livre de amarras antigas e ultrapassadas, apregoadas por pedagogias que não querem saber das diferenças, das singularidades, das multiplicidades. Afirmar que queremos liberdades de expressões é poder falar em diversas línguas que o imprevisto é bem-vindo, que a dor não se educa, que os problemas não estão nos outros e sim nas relações, que os conteúdos não precisam ser lineares, que não temos certeza de nada, nem podemos assegurar de como será o dia de amanhã para nossos estudantes. É tirar das costas um “peso histórico” que colocaram para a profissão de educadores!
A Escola é uma instituição em chamas! Diversos focos de incêndios podem ser notados em salas de aula, nas relações entre famílias e professores, professores e estudantes, currículo, discursos, etc. O dia-a-dia escolar é como um vento que propaga as labaredas, queimando a vegetação rasteira existente em cada espaço desse terreno. É por isso que é um espaço que tem vida própria, um espaço que precisa constantemente se compor e se decompor. O fogo que queima na Escola é fogo de paixão, aquela paixão que nos faz padecer, arder, que incomoda, enjoa, deixa sem fome... “amor em brasa”. Paixão que nos desloca, nos coloca em lugares nunca pisados ou sentidos.
A Escola e seus corpos devem se responsabilizar por causar incômodo em seus habitantes para que estes não deixem de querer encontrar rotas de fuga, escapes. Devem fazer com que nos embrenhemos nas labaredas presentes nas relações entre escola e famílias, incendiando as questões trazidas pelas mesmas com um discurso pedagógico (não pedagogizante) voltado às questões escolares.
Não devemos deixar esse fogo se apagar, mas sim colocar mais lenha na fogueira, jogar mais folhas secas, fazer o ar circular para deixar o fogo queimar... É urgente termos mais espaços de formação, de estudos dentro dos espaços escolares! Temos de incorporar o papel caloroso da formação para transformarmos chispas em calor formativo, em paixão!
Uma Pedagogia por Incêndios seria como um grito que se desloca no meio de tanta fumaça e nos faz pensar que, dentro da Escola, há efetivamente um discurso que não precisa de formas para existir, que não se encontra em um lugar definido, pois ecoa em várias direções e sentidos, e que não pretende nos guiar, apenas nos fazer presentes ao escutá-lo.

quarta-feira, 30 de maio de 2007


Professor: Vamos ver quem coleciona coisas interessantes nessa sala...Menino: Gosto de colecionar palavras...Não dá para colecionar palavras, Aurélio! Diz o professor...vai saber!

terça-feira, 29 de maio de 2007



Quantas pessoas moram em sua casa, fulaninho? Na minha casa não moram pessoas, moram parênteses ( )...Professor pensa: Que menino avirgulado!

segunda-feira, 28 de maio de 2007


A experiência, a possibilidade de que algo nos passe ou nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de inter­rupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demo­rar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar os outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.

Jorge Larrosa- Experiência e paixão

Primeiro é preciso transformar a vida, para cantá-la - em seguida.

Maiakóvski

sexta-feira, 25 de maio de 2007

O que se sente quando uma mãe cai da cadeira?




Demorei 30 anos para entender... não por falta de compreensão, mas pelo fato de minha mãe ter caído somente ontem da cadeira, na minha frente. Não consegui segurá-la, foi rápido demais. Aqueles três segundos de queda mostraram-me uma face de minha mãe que jamais havia sentido ou percebido.
Escutamos o primeiro “cleck”, ninguém disse nada. Ela se levantou para ver os gols da Itália e, quando foi se sentar, o segundo e derradeiro “cleck”. Seu olhar caindo estatelado ao chão foi de desespero e pureza. Um olhar de socorro que pedia uma mão para segurá-lo. Seu corpo foi, aos poucos, inclinando-se em direção ao chão e seus pés levantaram-se juntamente com seus braços, e seu rosto... Ah! Quase não posso me lembrar dele! Seu rosto torcia-se de medo! Constatação um tanto difícil para um filho: mães sentem medo!
Ao cair, inutilmente ela tentou se segurar na toalha da mesa, não conseguiu! Suas mãos levaram uma taça de minha bisavó ao chão. Os óculos de seus olhos de desespero foram para abaixo do nariz. Ela estava presa entre a mesa e a parede. Como foi parar ali? Aquela mulher cheia de vida, corajosa, que me consolava nos meus tombos de infância? Eu não sei consolar mãe caída! Enquanto caía, gritei assustado por “mãããe”, para ver se ela parava com aquilo de cair na minha frente! Levantei-me e segurei seus braços. Pude sentir a minha força ajudando seu corpo a se levantar. Olhei em seus olhos e vi que nunca estamos preparados para crescer ou perceber que, uma hora, todos chegaremos em lugares que antes não nos pertenciam.
Tive vontade de segurá-la no colo, agradar sua cabeça, chorei contidamente. Tentei limpar os cacos do chão, os do copo e os meus. Havia vinho por toda a parede. Ela reclamava do copo quebrado. Talvez não fosse ele a questão. Troquei de cadeira e continuamos a jantar. Não éramos mais os mesmos. Algo foi invertido naquele momento. Invertemos os papéis. Os dois perceberam isso. Não reconheci a minha mãe ao chão. Não reconheci aquele homem que tentou segurar o tombo da mãe. Difícil lição essa de crescer! Difícil lição essa de amar incondicionalmente alguém desde que nascemos.Dizem que é preciso tombos na vida para crescermos. Concordo plenamente, mas, precisava ser o tombo da mamãe?

A experiência e a poesia


Fico absolutamente encantado ao ver uma criança naqueles momentos em que o novo se revela diante de seus olhos! É uma experiência como educador e ser humano que não tem tamanho e que marca as nossas vidas!
Sou professor e percebo que cada vez mais nosso dever é provocar experiências de encantamento e descoberta em nossos alunos.
Experiências são individuais e intransferíveis! Carregamos as nossas experiências conosco por toda a vida, e é ela que, muitas vezes, nos guiará pelos caminhos escolhidos!
Ter uma vida repleta de experiências não tem nada a ver com a quantidade de coisas que você viveu, e sim com a qualidade do olhar que bebeu da descoberta!
Provocar experiências deveria ser conteúdo curricular obrigatório nas escolas.
Nunca me esqueço do dia em que fazia um passeio com meus alunos de 4 anos à represa de Salesópolis. No meio do passeio encontramos um bosque de pinheiros. Belíssimo! Uma das crianças disse: “Veja o barulho do silêncio!”. Todos pararam, ficaram esperando que o silêncio se pronunciasse. Sentei no chão como se realmente esperasse escutar algo. Todos me acompanharam. Nos deitamos e vimos como o vento balançava as árvores. Foi então que uma criança fez a grande descoberta: “O silêncio se mexe baixinho!”.
O aprendizado é uma experiência poética! A escola deve ser o espaço onde a poesia é escrita! Em vão é a leitura do leitor que busca significado único na poesia! Experimentar a poesia é uma experiência singular dos seres humanos, experimentar o saber também!
Experimentar tem mais ligação com aprender do que com ensinar!
Uma escola preocupada com resultados é uma escola sem espaço para novos desafios, para incertezas. A descoberta se dá, quando diante dos desafios, encontramos caminhos para incorporá-los.
Vamos deixar que nosso encantamento escute e dê “movimento ao silêncio”. Vamos encher nossas vidas de poesias!
Que a descoberta se transforme em experiência e a experiência transforme nossas vidas!