sexta-feira, 25 de maio de 2007

O que se sente quando uma mãe cai da cadeira?




Demorei 30 anos para entender... não por falta de compreensão, mas pelo fato de minha mãe ter caído somente ontem da cadeira, na minha frente. Não consegui segurá-la, foi rápido demais. Aqueles três segundos de queda mostraram-me uma face de minha mãe que jamais havia sentido ou percebido.
Escutamos o primeiro “cleck”, ninguém disse nada. Ela se levantou para ver os gols da Itália e, quando foi se sentar, o segundo e derradeiro “cleck”. Seu olhar caindo estatelado ao chão foi de desespero e pureza. Um olhar de socorro que pedia uma mão para segurá-lo. Seu corpo foi, aos poucos, inclinando-se em direção ao chão e seus pés levantaram-se juntamente com seus braços, e seu rosto... Ah! Quase não posso me lembrar dele! Seu rosto torcia-se de medo! Constatação um tanto difícil para um filho: mães sentem medo!
Ao cair, inutilmente ela tentou se segurar na toalha da mesa, não conseguiu! Suas mãos levaram uma taça de minha bisavó ao chão. Os óculos de seus olhos de desespero foram para abaixo do nariz. Ela estava presa entre a mesa e a parede. Como foi parar ali? Aquela mulher cheia de vida, corajosa, que me consolava nos meus tombos de infância? Eu não sei consolar mãe caída! Enquanto caía, gritei assustado por “mãããe”, para ver se ela parava com aquilo de cair na minha frente! Levantei-me e segurei seus braços. Pude sentir a minha força ajudando seu corpo a se levantar. Olhei em seus olhos e vi que nunca estamos preparados para crescer ou perceber que, uma hora, todos chegaremos em lugares que antes não nos pertenciam.
Tive vontade de segurá-la no colo, agradar sua cabeça, chorei contidamente. Tentei limpar os cacos do chão, os do copo e os meus. Havia vinho por toda a parede. Ela reclamava do copo quebrado. Talvez não fosse ele a questão. Troquei de cadeira e continuamos a jantar. Não éramos mais os mesmos. Algo foi invertido naquele momento. Invertemos os papéis. Os dois perceberam isso. Não reconheci a minha mãe ao chão. Não reconheci aquele homem que tentou segurar o tombo da mãe. Difícil lição essa de crescer! Difícil lição essa de amar incondicionalmente alguém desde que nascemos.Dizem que é preciso tombos na vida para crescermos. Concordo plenamente, mas, precisava ser o tombo da mamãe?

A experiência e a poesia


Fico absolutamente encantado ao ver uma criança naqueles momentos em que o novo se revela diante de seus olhos! É uma experiência como educador e ser humano que não tem tamanho e que marca as nossas vidas!
Sou professor e percebo que cada vez mais nosso dever é provocar experiências de encantamento e descoberta em nossos alunos.
Experiências são individuais e intransferíveis! Carregamos as nossas experiências conosco por toda a vida, e é ela que, muitas vezes, nos guiará pelos caminhos escolhidos!
Ter uma vida repleta de experiências não tem nada a ver com a quantidade de coisas que você viveu, e sim com a qualidade do olhar que bebeu da descoberta!
Provocar experiências deveria ser conteúdo curricular obrigatório nas escolas.
Nunca me esqueço do dia em que fazia um passeio com meus alunos de 4 anos à represa de Salesópolis. No meio do passeio encontramos um bosque de pinheiros. Belíssimo! Uma das crianças disse: “Veja o barulho do silêncio!”. Todos pararam, ficaram esperando que o silêncio se pronunciasse. Sentei no chão como se realmente esperasse escutar algo. Todos me acompanharam. Nos deitamos e vimos como o vento balançava as árvores. Foi então que uma criança fez a grande descoberta: “O silêncio se mexe baixinho!”.
O aprendizado é uma experiência poética! A escola deve ser o espaço onde a poesia é escrita! Em vão é a leitura do leitor que busca significado único na poesia! Experimentar a poesia é uma experiência singular dos seres humanos, experimentar o saber também!
Experimentar tem mais ligação com aprender do que com ensinar!
Uma escola preocupada com resultados é uma escola sem espaço para novos desafios, para incertezas. A descoberta se dá, quando diante dos desafios, encontramos caminhos para incorporá-los.
Vamos deixar que nosso encantamento escute e dê “movimento ao silêncio”. Vamos encher nossas vidas de poesias!
Que a descoberta se transforme em experiência e a experiência transforme nossas vidas!