terça-feira, 19 de junho de 2007


TODA PORTA QUERIA SER UMA JANELA
Marcelo Cunha Bueno

Janelas não querem entrar nem sair, querem apenas deixar passar. Têm olhos que vêem o movimento de pessoas, plantas e animais. Contentam-se apenas com passos e sorrisos. Abrir uma janela pela manhã, é dar bom dia à vida!
Pela janela, podemos ver com os olhos de quem está de fora e de dentro, ao mesmo tempo. Janelas são as verdadeiras portas de entrada de uma casa. Janelas com cortinas, janelas com flores, plantas, decoradas, janelas com os olhos de quem as habitam.
Os sonhos moram nas janelas. Lembro-me das manhãs de minha infância. Viajávamos eu, minha mãe, tia e primo, para um sítio gostoso no interior de São Paulo. Era um lugar repleto de janelas. Todas as manhãs, podia escutar minha mãe e minha tia dando bom dia para a cidade.
Acordava sonhando! As janelas eram rústicas, cor da própria madeira. Tinham cheiro das folhas dos pinheiros próximos da casa. Faziam barulho cada vez que abriam e enchiam o ambiente de luz. Um ritual digno de se guardar na memória!
Na sala de nossa casa, havia pelo menos oito janelas bem altas que davam para um terraço enorme. Podíamos ver um vasto gramado pelas janelas da frente e, pelas das laterais, víamos um pequeno vale. Um lugar de infância e brincadeiras. A casa parecia não ter paredes. Parecia ser uma grande janela - para o mundo!
Por ela, avistávamos os visitantes e, por ela, despedíamo-nos também. Por ela, caminharam as sensações mais deliciosas de minha vida. Cheiro de comida no fogão, sons de panela e pratos sobre a mesa. Músicas que povoaram a minha meninice, cantadas pela minha avó, tocadas pela vitrola que não existe mais. Por ela, via minha mãe rindo e me chamando para tomar banho e comer. Por ela, trocava a porta e, moleque, pulava-a correndo em busca de uma bola. Por ela, posso ver a minha infância.
Janelas deixam a luz entrar, conversam com o mundo exterior e abrem caminhos para o interior. A vida deve ser como uma casa repleta de janelas. Dizer aos outros que devem abrir as portas para conquistar seus desejos, é tirar a possibilidade da contemplação que é própria dos sonhos.
As crianças gostam de janelas. Não importa de onde sejam, gostam de olhar por elas. Quem não pegou seu filho, em um momento de silêncio, a olhar o mundo de passagem pela janela do carro? Devemos abrir as janelas de nossa sensibilidade e deixar que o mundo nos toque, devemos abrir nossas janelas e nos implicar com as coisas que estão ao nosso alcance. Abrir janelas é como dar uma chance para as surpresas que o mundo tem para nos oferecer.